Por Alice Beyer Schuch

Normalmente, quando pensamos em tendências da moda pensamos em cores, formas, tecidos, pensamos na magia e no show. E, nesse contexto, a palavra economia pode parecer um bicho de sete cabeças, algo surpreendente, algo que definitivamente não se enquadra. Mas não deveria ser assim – a moda é um negócio enorme que move mais de 1 trilhão de dólares a cada ano, e que, infelizmente, tem um impacto ambiental e social impressionante. Para lidar com isso, temos que dar cor à moda, sim!, adicionando o termo economia circular à MODA, verificando de perto o seu conceito e aplicação.

Muitos costumam pensar que economia circular é falar apenas de reciclagem. Mas não é só isso, apesar de ser um tema muito importante! Economia circular é muito mais rica e podemos sugerir outros exemplos de como desenhar, produzir, comercializar e se relacionar com a moda de forma mais responsável e sustentável.

A definição da Fundação Ellen MacArthur, especialista no tema, versa que a economia circular é reparadora e regenerativa pelo design, e visa garantir que os produtos, componentes e materiais em geral mantenham a sua utilidade e valor em todos os momentos. Mas o que é isso?

Inicialmente, é dizer que nós, como designers ou proprietários de empresas têxteis e da moda, devemos desenvolver produtos já pensando em seu “final” – o momento em que o produto não será mais usado – para permitir o seu regresso para o próximo ciclo – seja à natureza ou ao próximo ciclo de produção. Um exemplo: um produto feito a partir de fibras recicladas, mas que devido à sua composição têxtil não permite a reciclagem futura ou a decomposição das fibras naturais no ecossistema de forma segura, tem um problema de design. É um produto reciclado, tem seus pontos valiosos no longo caminho da sustentabilidade, mas não foi elaborado com a intenção de regeneração lá no seu começo.

Além de pensar em design, economia circular traz o conceito de estender o ciclo de serviço de produtos, componentes e materiais. Digo ciclo de serviço e não ciclo de vida, uma vez que existem muitos produtos que jogamos fora, mas que ainda não “morreram” e podem muito bem continuar a servir o seu propósito (como aquela roupa de última moda que compramos no mês passado e agora não gostamos mais).

Entre os modelos de negócios nos quais se aplicam a ideia de extensão estão aqueles que promovem o compartilhamento, a reutilização, reparação e re-fabricação.

Para mim, o ponto mais interessante é que estas não são atividades inovadoras, visto que os nossos antepassados as realizavam no seu dia-a-dia. São sim atividades esquecidas, engolidas pelo “progresso” sugerido pós Revolução Industrial, e atualmente inexploradas, mas que escondem um incrível potencial de extensão de valor.

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A cada oportunidade de se reutilizar um produto, seus componentes ou materiais, reduzimos pela metade o impacto ambiental inicial, diminuímos o investimento na produção de novos itens, reduzimos a necessidade e dependência de novos recursos – evitando a exposição a volatilidade dos preços, consequentemente, se reduzem as emissões de gases, e eliminamos um grande volume de descarte, além de promover novos postos de trabalho visto que são atividades intensamente manuais. A Suécia, por exemplo, não iria propor uma nova lei que reduz as taxas de imposto de reparos – de 25% para 12% – caso não visem a oportunidade incrível para criar valor para a sociedade, a natureza e a sua economia nacional.

Os famosos Brechós, embora estigmatizados por muitos, é outro importante exemplo de circularidade na moda. O uso de inovações tecnológicas e a facilidade de conexão via internet é seu modelo mais recente. Revender nossas roupas usadas em um site, ou eventos coordenados e divulgados nas redes sociais, estão se tornando mais e mais frequentes.

Pensar em economia circular está na moda, mas não é uma tendência passageira. Economia circular é uma necessidade, assim como o é a sua aplicação no desenvolvimento de produtos e a sugestão de novos modelos de negócios que utilizem de forma mais ampla e eficaz as possibilidades de conexão através da tecnologia digital!

Estar ciente dos impactos negativos da moda e absorver o conceito de circularidade no nosso Design e Negócios é um passo fundamental para nos tornarmos “à prova de futuro”.

Pensando nisso, a @ESfashionnet acabou de lançar uma campanha #façomodacircular para aumentar a comunidade que pensa em uma ou mais alternativas de como fazer da moda um mundo lúdico, mas com muito mais conteúdo e responsabilidade! Participe!

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*Artigo escrito para o site espanhol Slow Fashion Next, publicado em 27/10/2016.

*Adaptação escrita em português para o site Moda Sem Crise, publicado em 14/11/2016.